Aceite-se como é e seja mais feliz

Aceite-se como é e seja mais feliz

Por que se aceitar é tão difícil? Por que ser considerado “diferente” é algo ruim? O que é “ser diferente”?

Nesses últimos dias tenho me deparado com muitas coisas que envolvem essa tal “aceitação”, não só a de aceitar uma deficiência, mas sim de se aceitar do jeito que é.

E com isso comecei a refletir sobre a minha vida e voltei ao passado, lembrando de quando foi a primeira vez que quis esconder algo em mim, e isso começou por volta dos meus 7 anos, quando estava cursando a 1ª série.

Precisei começar a usar óculos nessa idade por causa de miopia e astigmatismo. Nos primeiros dias indo de óculos na escola, as “meninas populares” da minha sala começaram a zombar de mim, e resolvi deixar os óculos mais na mochila do que no rosto. Os anos foram passando e aos 11 anos, na quinta série, comecei a usar lentes de contato, minha vontade era tão grande de me livrar dos óculos que me esforcei ao máximo para me adaptar com as lentes no meu olho, apesar de incomodar, dizia que estava tudo tranquilo. E só deixei de usar há uns 3 anos atrás, pois usando ou não, já não fazia diferença.

Agora vamos ao momento revelação, já que estamos falando de aceitação, acho que essa talvez tenha sido uma das mais difíceis (depois da deficiência) de aceitar, talvez não aceite até hoje…rs. Meu cabelo é CRESPO! Pois é minha gente, faço relaxamento desde os 17, 18 anos. Essa rejeição também começou na época da escola, ficavam me zoando e dando apelidos para o meu cabelo, até de “ninho de barata” já chamaram. Tentei esconder de várias formas, meu cabelo estava sempre preso, trança ou coque. E quando encontrei um cabeleireiro onde fiz o relaxamento, lavei e o cabelo não voltou ao normal, foi a “solução dos meus problemas”! Nossa, foi a realização do século!rs

Penso que essa fase da adolescência é muito cruel conosco, estamos tentando encontrar um “lugar no mundo”, muita coisa é confusa em nossa mente, tentamos nos enquadrar em alguma “tribo” e às vezes acabamos nos sentindo um “peixe fora d´água”.

Pronto, cabelo alisado, meus olhos azuis não estavam mais escondidos atrás de um óculos, sem aparelho (precisei usar na adolescência), e boa parte das rejeições sobre mim mesma estavam praticamente resolvidas e minha auto estima tinha melhorado.

Mas, enquanto tudo isso acontecia, a minha visão também ia piorando…

E foi quando, aos 27 anos, precisei lidar com a aceitação mais difícil de todas, a deficiência visual.

Morria de vergonha de usar bengala, encarar que precisaria dela na minha locomoção era muito difícil, não queria que as pessoas me vissem com uma bengala, como se isso fosse revelar minha fraqueza. Não queria que as pessoas sentissem pena de mim, e a minha maior preocupação, era de que as pessoas que me conheceram enxergando me vissem sem enxergar, usando uma bengala, que me vissem como “uma coitada”. Também achava que a bengala me “enfeiaria”, na época estava solteira, achava que nenhum homem olharia para mim usando uma bengala, vendo que eu era deficiente visual.

Gente, tanta coisa passou pela minha cabeça, precisei lutar contra muitos monstros internos e principalmente, lutar contra o meu próprio preconceito.

Teve um dia, no começo de 2011, que eu acordei para ir trabalhar, o meu irmão tinha saído mais cedo e não tinha quem me acompanhasse até o ponto de ônibus, entrei em pânico e não consegui sair de casa, voltei a deitar na cama, fingi que perdi a hora para o meu pai me levar de moto. Depois disso eu vi que não estava dando conta de lidar com aquilo sozinha e resolvi buscar ajuda.

Comecei a fazer terapia e a frequentar a Fundação Dorina Nowill, uma Instituição para deficientes visuais.

Na Fundação eu fazia aula de mobilidade para aprender a usar a bengala, terapia em grupo, AVD (atividades da vida diária) e fisioterapia. Na terapia éramos em 5 pessoas, e eu era a única que trabalhava e tinha uma vida ativa. Como eu queria mostrar para os outros do grupo que eles poderiam ter uma vida ativa também, acabei buscando forças nisso e me esforçando ao máximo para conquistar a minha independência, tendo uma conquista a cada dia para na próxima sessão de terapia poder relatar ao grupo as minhas vitórias, incentivando-os a fazerem o mesmo.

Todo o processo levou um tempo, mas precisei ter muita força de vontade para lidar bem com a minha nova realidade de vida. Tudo isso só aconteceu porque eu queria sair daquela situação e eu tinha muito apoio da minha família e do meu namorado. Sim, enquanto eu estava passando por tudo isso, conheci meu namorado, estávamos no início do relacionamento, e isso também me deu forças para buscar a independência, queria que ele tivesse uma namorada, e não que ele sentisse que eu era um “peso” na vida dele.

Isso tudo o que falei são coisas que estavam na minha cabeça na época, coisa que depois vi que estavam somente dentro da minha cabeça.

Depois de assumir o meu “relacionamento” com a bengala vi que as coisas começaram a ficar mais fáceis, as pessoas não fugiam mais de mim quando pedia ajuda, muitas vezes nem precisava pedir ajuda, as pessoas já vinham até mim. Parei de esbarrar e tropeçar tanto nas coisas… As pessoas deixaram de me achar estranha ou metida, porque sabiam que eu não estava vendo que ela passou do meu lado e não cumprimentei não porque sou metida, mas porque não a vi… rs

Teve sim, e ainda tem, pessoas que lamentam pela minha deficiência, mas a maioria me admira. Me admira por eu fazer as coisas como se não tivesse a deficiência. Muitas pessoas pensam ser impossível fazer coisas sem a visão, mas para mim já é tranquilo! Afinal, a vida continua e precisamos nos adaptar. 😉

Quantas coisas eu conquistei, quantas pessoas boas eu conheci, quantos anjos passam pelo meu caminho sempre que estou na rua…

Se aceitar não é fácil, é doloroso, mas é necessário! Somos muito mais felizes quando nos aceitamos do jeito que somos!

Sobre a minha pergunta do início do artigo “o que é ser diferente”, penso, quem disse o que é ser normal? Quem definiu que normal é aquela pessoa perfeitinha? E existe pessoa perfeita? A resposta é não! Não existe, todos somos diferentes, todos temos qualidades e defeitos, sempre vai existir pessoas que irão gostar da gente e as que irão nos odiar, todos teremos momentos difíceis e de felicidade…Ninguém é igual a ninguém, nem na natureza as coisas são iguais, que graça teria o mundo se todos fossem iguais? Viveríamos numa mesmice!

Cada um tem seu tempo e processo para se aceitar, só não deixe que esse tempo demore demais, você está desperdiçando um tempo muito precioso da sua vida!

Compartilho o artigo da Amanda Ferretti, quem me acompanha, sabe que há 1 ano atrás eu a visitei em Salvador. Dei bons “puxões de orelha” nela, e funcionou!rs… Conversamos muito durante a minha estadia lá, ela estava passando por esse processo de aceitação da deficiência visual. Digo que ela já queria se aceitar mas não sabia como fazer, só ajudei dando um empurrãozinho e fico muito feliz em compartilhar este artigo com vocês, ela conta o que aconteceu depois das broncas… 😉

1 Ano Depois (Amanda Ferretti)

 

Já fazem alguns meses que gravei um vídeo contando sobre o meu processo de aceitação da deficiência, convido vocês a assistirem também!

 

De coração espero que a minha história ajude vocês. Nunca imaginei que um dia ficaria deficiente visual, que precisaria de um cão-guia… A vida passa em um “piscar de olhos” e precisamos aproveitá-la ao máximo! Os obstáculos irão sempre existir, mas vamos “sacudir a poeira e dar a volta por cima”! <3

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6 comentários sobre “Aceite-se como é e seja mais feliz

  1. Superando desafios todos os dias! Um exemplo! Parabéns! 👏👏👏👏

  2. Eu também tenho deficiência visual. Só exagero cinco 5%e vultos. A minha aceitação é muito difícil, muitos me julgam e isso me deixa muito pra baixo. Obrigada pela dica

  3. Olá Denise! Fico feliz que tenha gostado das dicas e espero que te ajude! Hoje estou bem com a deficiência, mas sei como é difícil se aceitar, mas só o desejo de querer se aceitar já é um grande passo! Tenho certeza de que você também conseguirá vencer essa luta e sairá como vitoriosa!!! Grande beijo!

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